São João 2007 - Ilha de Itaparica |
apagou-se João.
Antonio
contador de casos e
senhor dos juramentos,
cheio de gestos próprios
ria à toa,
já disse, homem simples.
ele apostava na vida.
na palavra de honra,
e no tempo dos bichos e das plantas
ensaiei demais, ele tinha pressa.
me contou uma vez que perdeu a mania de guardar as coisas quando criança.
acordou cedo pra vestir roupa nova em dia de são joão - seu aniversário
e nesse mesmo dia o fogo queimou toda sua apegação às coisas materiais.
depois do acontecido,
bebia, dançava, comia gordura e não guardava mais nada
inimigo, segredo ou rancor.
por teimosia e proteção, era de ogun com oxossi.
casou-se com Ernestina.
nasceram Luciclei, Sandra e Sidinei,
fim do mês fariam 30 anos,
“ele era meu pai, minha mãe, meu tudo”.
palavras da viúva.
agora nem pés nos pés,
nem briga, nem riso,
nem abraço, nem beijo
ou vício de bife com arroz todo dia
(foi seu último pedido. “comida de hospital tem gosto de nada, mulher!”)
sozinho naquele lugar frio, branco, sombrio.
no silêncio da madrugada,
balas coloridas distribuídas aos leitos
e já não sabia se sonhava ou dormia,
...
tira água do pulmão,
pega o braço, acha a veia, bota o soro, injeção
agonia.
enquanto um dorme de um lado, o outro vela e caixão.
Com ele, aprendi que o tempo é rei.
Agora é agora. Depois é depois.